sociedade e comportamento

PLURAL: os textos de Silvana Maldaner e Paulo Antônio Lauda

  • O que é sucesso?
    Silvana Maldaner
    Editora de revista

    Você já parou para pensar o que é sucesso para você? Para a maioria das pessoas, sucesso significa chegar ao topo, ser a referência, o modelo, o mais popular e acumular muito dinheiro.

    Somente 1% da população teria sucesso na vida sob esta ótica, e as demais deveriam viver na frustração de que não atingiram o topo.

    Conhecemos muitos artistas e atletas que venceram na vida, saíram da pobreza, venceram seus preconceitos e são os novos ídolos midiáticos.

    E quais os valores passados pelos ídolos desta nova geração?

    Eu tinha muito orgulho quando viajava a outros países e as pessoas tinham como referência brasileira Airton Senna, Pelé, Gisele Bündchen, Tom Jobim, Alexandre Pires. 

    O ídolo influencia muito mais que sua própria arte, seu talento e sua postura. Ele forma novos valores e a forma de se comunicar com o mundo. 

    É decepcionante de um modo geral a mulher brasileira ainda ser reconhecida no exterior apenas como as mulheres das bundas grandes, as mulheres fáceis, as prostitutas.

    Nas primeiras experiências que tive na Itália, lá pelos anos 2000, conheci organizações humanitárias que investigavam o tráfico de mulheres no Brasil, voos semanais vinham da Escandinávia com programas de pacotes all, inclusive incluindo cardápio de mulheres e belezas naturais. Vi folders e cartazes. Era chocante, assustador.

    Eu sinceramente tenho orgulho das mulheres empoderadas que não precisam sexualizar, sensualizar e competir com o auge do colágeno da juventude. 

    Tenho orgulho das professoras que acreditam na educação como arma de transformação. Tenho orgulho das juízas e delegadas que, todos os dias, são confrontadas pelos interesses diversos, e, muitas vezes, colocam em risco sua segurança. Tenho orgulho das engenheiras, advogadas, médicas que vencem o machismo e se tornam líderes nas suas categorias, tornando-se presidentes e autoridades de um Estado inteiro.

    Tenho orgulho dos profissionais que ficam no front das batalhas em hospitais, CTIS e pronto-socorros, por mais de 10 horas, emendando plantões e, mesmo assim, não perdem a ternura em persistir, mesmo que não consigam comprar a bolsa de 50 mil que a artista ostenta. 

    Tem coisas que tem preço, valem dinheiro. Mas tem coisas que tem valor que dinheiro nenhum paga. Se seguirmos pela ótica do dinheiro que compra tudo, Pablo Escobar, Fernandinho Beira Mar e demais criminosos de colarinho branco seriam as pessoas mais bem sucedidas, chegaram ao topo, mas sem propósito de fazer o bem, ajudar pessoas e ser a diferença no mundo.

    Um viva bem grande a todos os profissionais que venceram suas barreiras pessoais e que são felizes. Pois, como diz Shinyashiki, sucesso é ser feliz.

    Tapa de luva
    Paulo Antônio Lauda
    Cirurgião-dentista e ex-professor da UFSM

    Passadas algumas semanas atrás, recebi em meu consultório um velho homem de porte grande e postura jovial para realizar uma consulta para um procedimento cirúrgico. Me disse que tinha 92 anos. Examinei e argumentei sobre seu caso, prós e contras, etc. Mas ele decidido que estava de executar a cirurgia me disse: "tenho pressa e pretendo fazer logo. Passei, então, a fazer uma anamnese mais acurada. Perguntei sobre seus hábitos, sua condição clínica, exames, radiografias, etc. Num determinado momento da prosa ele foi taxativo e me disse: "Olha, doutor, eu sou um pouco mais velho, mas não tenho nada! Sou absolutamente saudável! Me alimento sempre muito bem, faço academia todos os dias e meus exames estão ótimos. Ahhh, disse ele, não descuido dos meus sentimentos, gosto muito de filosofia! Vou lhe trazer todos para o senhor ver. Explicou detalhadamente sua dieta, hábitos diários... Daí, observando aquele homem falar com orgulho da sua conduta, comecei a sentir um pouco de vergonha porque tenho 61 anos, sou da área da saúde e não fazia a metade das coisas que ele me contava fazer. Uma semana após, avaliei-o com todos seus e exames e realizei o procedimento com muito êxito.

    Vejam o exemplo deste homem, ensinado ao mundo na sua volta a viver intensamente, com garra, vontade e disposição aos 92 anos. Tinha amor à vida e a vivia na plenitude. Quando terminei meu dia de trabalho, comentei a história com minha esposa e tratei de providenciar algumas leves mudanças nos meus cuidados e hábitos pessoais. Talvez, você que está me lendo agora, também esteja repensando seus hábitos.

    Percebam que assistimos todos os dias, depressões, estresses, fadigas, obesidades, álcoolismo, tabagismo e tantos outros desajustes, que, quando nos deparamos com um simples exemplo destes, deveríamos minimamente dar início a um questionamento interno. Como eu estarei daqui a 10, 15, 20 anos? Este mundo é belo e nos oferece tudo para ser feliz! Na verdade, todos estes problemas, obviamente guardando a particularidade de cada um deles, passam por uma autoanálise mais profunda e, quem sabe, uma mudança de hábitos. Certamente, estas mudanças causarão um desconforto inicialmente, mas na idade mais tardia nos recompensará com qualidade de vida. Como dizia minha vó:

    "Vamos vivendo um dia de cada vez e plantando nosso merecimento..."

    Vamos nos envolvendo com nossos compromissos e prazeres cotidianos e, muitas vezes, tirando a importância dos detalhes mais íntimos e pessoais. Certa vez li, que deveríamos nos concentrar em melhorar nossos talentos dia a dia. Mas os talentos mais importantes a serem melhor trabalhados, seriam aqueles que você já trouxe quando nasceu e pode levar quando chega a morte física. Bondade, sapiência, caridade, amor ao próximo, etc., e perceba que nossas conquistas materiais nos serão tiradas quando nossos olhos cerrarem definitivamente. Pensem nisso!


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